Em todo indivíduo existe
um recanto imaculado,
virgem, inexplorado,
silencioso, profundo…
Em toda criatura permanece
um mundo,
santo e ignorado,
nunca dantes penetrado,
aguardando,
enriquecido de ternura…
Há, no abismo de toda alma,
um rochedo,
um lugar, uma ilha,
um paraíso,
um recanto de maravilha
a ser descoberto…
Em todo coração se demora
um espaço aberto para a aurora,
um campo imenso
a ser trabalhado,
terra de Deus,
lugar de sonho,
reduto para o futuro…
Em toda vida
há lugar para vidas,
como em toda alegria
paira uma suave melancolia
prenunciadora de aflição.
Há, porém, um lugar em mim,
na ilha dos meus sentimentos não desvelados,
um abismo de espera,
um oceano de alegria,
um cosmo de fantasia,
para brindar-Te,
meu Senhor!
Vem, meu amado
Rei e Senhor,
dominar a minha ansiedade,
conduzir-me pela estrada
da redenção.
E toma desse estranho e solitário país,
reinando nele e o iluminando
com as tuas claridades celestes,
para que, feliz, eu avance,
até o desfalecer das forças,
no Teu serviço libertador.
Vem, meu Rei,
ao meu recanto
e faze de minha vida
um hino de serviço.
E por Ti uma perene
canção de amor.
Invocação
Senhor, Inunda-me no esplendor de tua luz e,
contudo, cego, não Te vejo.
Falas-me na eloqüência do teu verbo e,
no entanto, surdo,não Te ouço.
Abrasas-me na ardência de teu amor e,
todavia, insensível, não Te sinto.
Oh! Estranha contradição!
Tu, bem perto de mim,
e eu, tão longe de Ti!
Desvela-me, Senhor, os olhos,
cegos de orgulho; abre-me os ouvidos,
surdos de vaidade, e sensibiliza-me o
coração, duro de maldade,
para que eu descubra tua divina
presença na intimidade do meu ser!
Divaldo Franco pelo Espírito Rabindranath Tagore